Para aqueles que adoram adquirir coisas que nem sabiam que precisavam, mas quando compram, descobrem que, realmente, não precisavam… bom, cá está, o paraíso das quinquilharias. Se você está em Buenos Aires e procura uma experiência que misture cultura, história, aleatoriedades e gastronomia, não pode deixar de visitar o Mercado de San Telmo. Localizado no coração do bairro mais boêmio da cidade, este mercado é um verdadeiro tesou ro de sabores e aromas que encantam a todos os paladares e interesses.
Historiadores de plantão, essa é para vocês:
Inaugurado em 1897, o Mercado de San Telmo nasceu como um centro de abastecimento para os moradores da região, que buscavam frescor e qualidade nos produtos. Com o passar dos anos, o mercado enfrentou desafios, como a concorrência de supermercados modernos, mas conseguiu se reinventar. Hoje, é um espaço vibrante que combina tradição e modernidade, onde antigas barracas de frutas e verduras convivem harmoniosamente com novas lojas de artesanato e opções gastronômicas contemporâneas.
O edifício, com sua estrutura de ferro fundido e teto de vidro, é um exemplo notável da arquitetura industrial do final do século XIX. Os visitantes não apenas compram, mas também se encantam com a beleza do local. O mercado abriga cerca de 50 boxes de venda, que vão desde barracas de frutas e legumes, de restaurantes que oferecem pratos típicos argentinos até barracas que vendem apenas talheres e louças antiquíssimas, ou revólveres centenários… Nos fins de semana, especialmente aos domingos, o local fica lotado, com cerca de 5.000 a 10.000 pessoas transitando entre os corredores, criando uma atmosfera animada e acolhedora.


Para além do interior do mercado, há também a Feira de San Telmo, que acontece todos os domingos, das 10:00 às 18:30 e pode ser considerada uma das mais tradicionais e vibrantes de Buenos Aires. Essa feira ao ar livre transforma as ruas em um verdadeiro caldeirão cultural, atraindo tanto moradores quanto turistas em busca de artesanato, antiguidades, e uma atmosfera cheia de vida. A Feira de San Telmo se estende ao longo da Calle Defensa e conta com mais de 250 barracas que vendem uma variedade incrível de produtos. Você encontrará desde peças de artesanato local, roupas vintage e acessórios únicos até móveis antigos e obras de arte de artistas locais, funcionando como uma extensão do mercado. O ambiente é alegre e descontraído, com músicos e dançarinos de tango se apresentando nas ruas, criando uma trilha sonora bem singular e um ar de “terra estrangeira”.
Assim como o mercado, a feira é famosa por suas barracas de antiguidades, onde os amantes de itens vintage podem passar horas explorando e garimpando preciosidades. É comum encontrar desde discos de vinil raros até móveis de época, além de uma infinidade de objetos curiosos que contam a história da cidade.
Além do itens vintage que são o destaque da feira, vale também citar que emm alguns trechos do bairro é possível encontrar produtos de artistas locais. Nós aproveitamos para comprar blusas e adesivos com estampas artesanais e incensos, mas havia muito mais. Bem no epicentro de todos esses acontecimentos, também é possível encontrar a rota da Mafalda (sim, aquela das aulas de português), a Parroquia de San Pedro González Telmo e várias Sorveterias com opções veganas, todos valendo muito a visita.







Falamos tanto que deu até fome, não acha? Vamos falar de comida então:
Nosso primeiro destaque vai para o restaurante Regina Vermutheria, um estabelecimento localizado dentro do mercado com uma variado e apetitoso menu, indo de vermutes (bebida alcoólica aromatizada com ervas) à focaccias e pizzas deveras maravilhosas. Pergunto a vocês: é um restaurante vegano/vegetariano? adianto que não, porém, como quase todo estabelecimento em Buenos Aires, existem sim opções Vegan Friendly ou a possibilidade de negociar, como seria o exemplo da nossa focaccia e nossa pizza que, por um valor adicional, tinham como incluir queijo vegano. Bom, vou adiantar dizendo que os dois ítens do cardápio que pedimos eram excelentes, massa muito macia e crocante por fora, recheio muito saboroso…. realmente, nada a criticar. A escolha da pizza funciona assim: você escolhe no cardápio o sabor que melhor lhe agrada, caso seja vegano, você pede o queijo vegano, como podemos ver na foto abaixo:

Bem fácil, viu? Um portunhol já resolve muito bem. Aqui estão as fotos da pizza e da focaccia:
A pizza que pedimos foi a penúltima da lista: burrata com tomate seco, azeitonas negras, folhas de manjericão e a querida mozzarella vegana (temos muito a falar dos queijos veganos argentinos, mas segura aí que isso é história para uma outra hora). A pizza era de tamanho médio, com a massa nitidamente artesanal e fresquinha, com as bordas bem “rústicas” (o que particularmente gostamos bastante). O recheio estava no ponto, com um equilíbrio ideal de sabores e texturas, nos entregando uma pizza bastante saborosa e leve. Como de costume, geralmente pedimos pratos separados para provarmos de tudo um pouco, e dessa vez, resolvemos pedir uma focaccia, ou melhor dizendo… um sanduíche de focaccia. Bom, vamos lá, o primeiro ponto que talvez pareça até brincadeira mas que nos surpreendeu, foi a maciez da massa. Neste momento talvez você esteja se perguntando: mas focaccias não são macias? Sim, deveriam ser… mas o ponto de surpresa aqui é que, curiosamente, simplesmente achávamos que não existia fermento na Argentina….. Gente, sério, foi cada pão duro que provamos… já estávamos suspeitando de que a Argentina usava desse talento para atender às necessidades bélicas do país… Mas brincadeiras a parte, essa focaccia estava fofíssima, dá para notar na foto como o glùten foi muito bem desenvolvido. O recheio era um pouco parecido com o da pizza e era o único sabor veg do cardápio, berinjelas, tomates secos, rúcula, azeitonas negras e parmesão (peça para tirar esse último). O sabor também era muito bem equilibrado e com o adicional de mussarela vegana. De verdade, ambas as escolhas estavam simplesmente no ponto, muito válidas de uma paradinha para matar a fome com comida boa depois de explorar a região..


A Saga do Mate Argentino:
Se você, assim como nós, ficar na curiosidade para provar o bendito elixir argentino (o mate), saiba que tem solução, e ela fica aqui dentro do Mercado mesmo. Mas antes de falar sobre o lugar, calma lá que vem história.
Assim que chegamos na Argentina, de cara já ficamos intrigados com a quantidade de pessoas com garrafas térmicas e cuias de mate (talvez para quem seja do Sul isso não seja lá uma grande questão). Os dias foram se passando e fomos notando mais e mais o fascínio por essa bebida (gente, tem até máquina de água quente para tomar seu mate de emergência, como assim…???). Com esse nosso interesse crescendo cada vez mais, resolvemos ir em busca de algum local em que pudéssemos provar bebida. Rodamos e rodamos, perguntávamos em cafeterias e demais locais sobre o mate, e pelo incrível que pareça, nada de achar. Um belo dia, nessa busca incessante, entramos em uma cafeteria para perguntar sobre, até que a pessoa que nos atendeu nos explicou porque que não estávamos achando: o mate na Argentina é algo muito pessoal, variando entre gostos e preferências de cada pessoa, por isso todos carregam sua cuia e suas garrafas térmicas ao invés de simplesmente comprar pronto em um estabelecimento.
Porém, apesar de toda essa dificuldade, já quase perdendo nossas esperanças, conseguimos aleatoriamente achar um lugar no Mercado de San Telmo que servia o famigerado. O nome do estabelecimento é Fonda Los Carrera, que provavelmente já está acostumado com esse tipo de turista curioso. A porção vem com a cuia e bombilla (“o canudo”), um bule com água quente, um potinho com a erva e outro com açúcar.

A funcionária do estabelecimento nos explicou sobre o processo e nos serviu da forma que deve ser mais palatável ao paladar dos clientes (Leia-se com muito açúcar, parecido com o nosso mate carioca). Quando provamos, foi primeiramente uma surpresa, já que ela disse que poderíamos não gostar e blá blá blá, no entanto… não é que gostamos mesmo da coisa? A moça ficou até surpresa. Depois disso, provamos sem açúcar… e… Não é que gostamos também? Tem um sabor bem concentrado bastante interessante, sentimos que nosso espanhol ficou até melhor depois dessa. Enfim, depois disso, ao irmos embora, o chefe perguntou sobre o que achamos e também ficou surpreso ao ver que realmente gostamos (naquele momento começamos a nos contestar se temos o paladar estragado). Bom, apesar de termos parado apenas para tomar o mate, o restaurante vende várias outras coisas, porém somente duas opções vegetarianas que dariam para remover o ovo frito no caso, mas como não comemos, não podemos falar sobre :/ No mais, o local foi bastante agradável, os funcionários foram todos simpáticos e fomos muito bem atendidos, recomendamos para caso tenham interesse em provar do sagrado mate argentino (e melhorar seu espanhol).
Agora além do mercado ser muito bom para ter esse tipo de experiência, também é um ótimo lugar para adquirir seu kit próprio de mateiro. Vários estabelecimentos, no mercado e na feira, vendem cuias e bombillas, variando os tamanhos, materiais e acabamentos, alguns artistas as fazem na sua frente, é bastante legal. Nós compramos a nossa em uma feirinha e compramos um pouco de erva no mercado (2kg…), assim podemos continuar bebendo nossas doses de boas nostalgias que essa viagem nos proporcionou.
Como citamos, o bairro de San Telmo é uma agradável surpresa com muitas coisas legais. Em outros posts falamos sobre alguns lugares nas redondezas que merecem atenção, alguns deles são:
- Restaurante vegetariano na frente do mercado
- Museu moderno.
- Sorvete Freddo
- Y la vaca Chocha
- Parroquia de San Pedro González Telmo